domingo, 20 de dezembro de 2009

PARAÍSO

Foi Deus,

Ser Supremo,
o mais Nervoso dos nervosos,
o mais Irritado dos irritados,
contemporâneo Precursor
da infelicidade contemporânea,
Quem, como se sabe, construiu,
com a argila literária universal,
o Paraíso: fez-se a Luz.


Ali, centrado em Si,
desenvolveu a Mulher, o Demo
e Adão. Este último, macho desajeitado,
sem razão e sem sorriso.
O que se seguiu é de ciência comum:
Total ausência de castidade - e de juízo.


Dizem os pulsares que Deus
(que nunca se culpou, pois Ele só não é a culpa de todas as culpas)
até hoje, com a mão sob o queixo, estupefato está:
- Que imagem é essa?
- Que semelhança é essa?
- Quem foi que deu causa a tamanha leviandade?
(Brada Ele, eternamente, diante das infinitas luzes do infinito Universo).


E assim Deus quedou-se inerte, imerso em Seus pensamentos.
E assim permanece, há muitos anos-luz.


As vezes, pergunto eu, diante de tantas contradições:
- Se até Ele não sabe, como saberei?

 
Autor: Bardo Setelagoano
Publicado no site Recanto das Letras

sábado, 12 de dezembro de 2009

Um poema de John Dryden

"SONG TO A FAIR YOUNG LADY, GOING OUT OF THE TOWN IN THE SPRING

by: John Dryden


ASK not the cause why sullen Spring
So long delays her flowers to bear;
Why warbling birds forget to sing,
And winter storms invert the year:
Chloris is gone; and fate provides
To make it Spring where she resides.

Chloris is gone, the cruel fair;
She cast not back a pitying eye:
But left her lover in despair
To sigh, to languish, and to die:
Ah! how can those fair eyes endure
To give the wounds they will not cure!

Great God of Love, why hast thou made
A face that can all hearts command,
That all religions can invade,
And change the laws of every land?
Where thou hadst plac'd such power before,
Thou shouldst have made her mercy more.

When Chloris to the temple comes,
Adoring crowds before her fall;
She can restore the dead from tombs
And every life but mine recall.
I only am by Love design'd
To be the victim for mankind."

sábado, 5 de dezembro de 2009

Pertencimento

Não te vi. Há noite,
Como de hábito.
Ausência de luz.
Penso.

Te não ver é desafio,
Anestesia.
Tua nudez mata mente,
Há que ser tua traição:
Corrompes, enfim, o clima.

Rebelião dos genes,
Ilusões íngremes,
Sonhos perenes.
A quem pertences?


Bardo Setelagoano
Publicado no Recanto das Letras em 05/12/2009
Código do texto: T1961480

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

ANESTESIA

Anestesia
Ninguém sabe se vai
Ou se ia


Bardo Selagoano, em 02 de dezembro de 2009

domingo, 22 de novembro de 2009

Extradição

Fui extraditado:
Dormimos juntos ontem,
Não acordei ao seu lado.


Bardo Setelagoano
Publicado no site "Recanto das Letras", em 22 de novembro de 2009.

Lembrando Geoffrey Chaucer (Pai da Literatura Inglêsa)

Transcrevo abaixo a parte introdutória (“General Prologue”), dos “Canterbury Tales”, de Geoffrey Chaucer, conforme consta da edição on-line de Michael Murphy (“Reader-Friendly Edition”), adaptado, embora com extrema fidelidade ao original, à moderna escrita do Inglês. Chaucer, o chamado “Pai da Literatura Inglêsa”,  é o mais admirado poeta inglês da Idade Média, considerado por seus contemporâneos como um sucessor do estilo consagrado pelos clássicos Virgílio e Dante.


“When that April with his showers soote
The drought of March hath pierced to the root
And bathed every vein in such liquor
Of which virtue engendered is the flower,
When Zephyrus eke with his sweete breath
Inspired hath in every holt and heath
The tender croppes, and the younge sun
Hath in the Ram his fale course y-run,
And smalle fowles maken melody
That sleepen all the night with open eye
(So pricketh them Nature in ther courages),
Then longen folk to go on pilgrimages,
And Palmers for to seeken strange strands
To ferne hallows couth in sundry lands,
And specially from every shire’s end
Of Engeland to Canterbyry they wend
The holy blissful martyr for to seek,
That them hath holpen when that they were sick.”


Alguns estudiosos propõe outas versões, modificando e atualizando aquele texto, na tentativa de melhor transmitir as mensagens do poeta:



“When April with his showers so sweet
Has pierced the drought of March to the root,
And bathed every vein in that liquor
Whose blessed power engenders the flower;
When Zephyrus too with his sweet breath
Has quickened in every grove and heath
The tender shoots, and the young sun
His half-course in the Ram has run,
And small birds make their melody
That sleep all night with open eye, -
(So nature pricks them to lusty rage)
Then people long to go on pilgrimages -
And palmers seek out strange strands -
To distant shrines, hallowed in sundry lands;
And specially, from every shire's end
Of England, down to Canterbury they wend ...”

(Alan Still, in http.thesemoments.blogspot.com, abril de 2006).

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Almoço em família

Que proeza!
Todo mundo comeu
E saiu da mesa.


Autores: Bardo Setelagoano e Lucas Alexandre
Em 18 de novembro de 2009, às 12:43 horas

Publicado no Recanto das Letras em 18/11/2009

Código do texto: T1930470

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Rosa do Nosso Tempo

Em um mundo de tantas cores
Eu busco as flores
Não as mornas, aromatizadas
Programadas, em preto em branco
Baixadas do Youtube
Corrompidas
Como a rosa de Hiroshima
Estúpida, hipócrita.


Eu quero você, flor vermelha
Vestido vermelho molhado de tinto vinho
Rubra na nudez da lira itabirana
De outro tempo
Que ainda é, para sempre
O nosso.


 
Bardo Setelagoano
Publicado no site Recanto das Letras, em 17 de novembro de 2009

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Um poema de Luiz Muñoz

Eis um belo poema de Luiz Muñoz, de extrema beleza e sensualidade:


"PARA CELEBRAR TU SEXO

Luiz Muñoz


Para celebrar
tu sexo
una copa de champán.

Para besarte el aire que
te corre entre las piernas
(abismos indefinidos
sacrificios consumados)
unos labios vírgenes
que nunca antes
tocaran
piernas blancas
suaves
piernas perfumadas
con una rebelde perfección.

En el silencio
de tu pubis
en la humildad
de tu vulva
(pecado inmortal)
me gozo tranquila."


sábado, 7 de novembro de 2009

Soneto - Um poema de Alice Oswald em tradução livre

SONETO
Alice Oswald

“Fico insegura quando algumas das coisas que você me disse
não se traduzem em realidade. As questões são intermináveis,
mas suas interpretações alteram o que está por vir.
Você se move rápido; suas palavras, com mais vagar.

Ah, não há como descrever – como um fractal
cortado por silêncios, nós só temos nossa própria
pele para sentir e para recuar. É terrível
compor em profundidade a partir de algo tão desconhecido.

Mas, de mim mesma, tudo o que você terá serão promessas,
profundas mas breves; não posso avaliar ou entregar
mais do que aquilo que recebo – o que é uma forma de me equilibrar

entre a cumplicidade e a crença no amor
ambas verdadeiras e falsas, porque eu apenas sou,
na falta de palavras, a primeira a crer.”


Trecho do original:


Sonnet

I can't sleep in case a few things you said
no longer apply. The matter's endless,
(...)

Da obra “The Thing in the Gap-stone Stile” (Oxford, 1966)

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Palestra


Amigo,
Quero que você me diga
se é melhor
torcer pro Vagner Love
ou tomar Engov.


Intervalo.
Cansei de não correr
A torcida
entristecida
nem vaia


Jogo duro.
Em busca do tempo
perdido.
Sou poeta
Ou bola?


Céu azul
Com mancha verde.
Quero é ver
ressuscitar
Ademir.



domingo, 18 de outubro de 2009

Passagem ...

“- Há remédio para tudo!
Dizia a avó, sonolenta.
Enquanto os anos passavam, sem dor.

Eu, o neto sortudo
Apenas ouvia - sal e pimenta -
Aquele dizer transformador.

Hoje, envelhecido.
Talvez até esquecido
De quem nunca se lembrou

Posso estar sem esperança
Na espera, sem sustança,
Do remédio que a avó tomou.”


Autor: Bardo Setelagoano

Publicado no Recanto das Letras em 14/10/2009 (www.recantodasletras.com.br)

Rap do Padrinho

(Homenagem da família Marzano a José Cosme do Nascimento)
Autores: Lucas, Alessandra, Angelo e Kátia


"Tá me dando a impressão
De uma grande confusão
Verdades em conta-gotas
Mentiras em profusão.

Isso aqui é uma oferenda
Pruma verdadeira lenda
As históricas num acaba
Pro homem de Itaverava!

Homem sério pra xuxu
Mas engraçado pra daná
Era pau pra toda obra
Acolheu até a sogra!

Vem Capeto (au au au)
Vem Capeto (au au au)
Vem Capeto (au au au)
Vem Capeto


Bimba, Tatai, Sureco, Xicão
Tereza Cristina, Janice, Serjão
Qual de vocês vai me dar a mão?
Ele formou mais que uma nação!


Luis Fernando, Jihan, Sinuê
Nando, Joãozinho, Isabela e Ié
Ele formou mais que uma nação!
Qual de vocês vai me dar a mão?


Vem Capeto (au au au)
Vem Capeto (au au au)
Vem Capeto (au au au)
Vem Capeto


É um acontecimento
Impossível de esquecer
José Cosme Nascimento
Nós gostamos de você!


Para aquele grande homem
Não tinha tempo ruim
Enfrentou o mundo todo
E lutou até o fim.


Tá me dando a impressão
Que cumpriu sua missão
Mentiras em conta-gotas
Verdades em profusão.


Vem Capeto (au au au)
Vem Capeto (au au au)
Vem Capeto (au au au)
Vem Capeto

- Silêncio aí, moçada! O velho tá descansando!"


Obs.:

• Publicado no site Recanto das Letras, em 02 de outubro de 2009 (www.recantodasletras.com.br).

• Disponível no youtube na URL http://www.youtube.com/watch?v=waSn4C8ZIuI

• Autor: Bardo Setelagoano

Há um jumento a sua espreita ...

Eita!
Que descobri a essência desta feita.
Tenho buscado, com fé, em quase seita
a verdade que a todos aproveita.
E, se quem acredita não aceita,
ou se a engrenagem não azeita,
é que há um jumento a sua espreita.

Psiu!
Se é certo o quase orgulho juvenil,
há também a lucidez quase senil
a nos levar - a todos - ao funil.
E só o jumento é que não viu
que quem vai súbito de zero a mil
Vai à certeira puta que o pariu!

Terra!
Jumento é cabrito que não berra.
Levante a mão aquele que não erra
e verá que o afeto não se encerra
até que se deflagre bela guerra.
Mas se não for daquele que emperra
Ou dá o morro ou desce a serra.

Basta!
O bom jumento é aquele que não pasta.
O bom dinheiro, o que não se gasta
a escova, a que os dentes não desgasta.
Se, da amada, o amor de vero não se afasta
E se faz de toda dor eterna festa
A vida não pode, assim, ser tão nefasta.


Autor: Bardo Setelagoano
Publicado no site Recanto das Letras em 27/09/2009 (www.recantodasletras.uol.com.br)